Vocação
Eclesial
A Igreja é a assembléia dos
vocacionados. Ela não é a fonte, mas a mediadora de vocação e o lugar de sua
manifestação. Ela não dá vocação ou carismas, mas organiza e discerne os
ministérios. A vocação e os ministérios são elementos fundamentais e constitutivos
da Igreja. Sem vocações e ministérios não há uma comunidade eclesial. A vocação
por excelência é à santidade. A ela somos chamados a partir do batismo; um
chamado à fé, ao seguimento e à graça. Todas as outras vocações nascem da
vocação batismal. O batismo é a base que sustenta todos os ministérios. O padre
é para o leigo, e o leigo é para o mundo.
A missão da Igreja é
transformar o mundo sendo sinal e instrumento de realização do Reino de Deus. A
Pastoral não é uma pastoral pragmática. É uma ação evangelizadora, uma
atividade eclesial da comunidade de fé que traz consigo uma visão de Deus, de
pessoa humana, de Igreja, de missão e de mundo. Todos na Igreja são chamados
para um determinado serviço. Somos um povo de servidores. Nossa prioridade é a
promoção da vida, dos direitos humanos, resgatando os que sofrem a exclusão
social. Nesta linha de reflexão, a vocação dos ministros ordenados está a
serviço das outras vocações. Ela é estrutural e estruturante na Igreja. É o
serviço que organiza os demais serviços. Todos porém somos servos uns dos
outros, vocações irmãs entre si. Trata-se de um ministério em função dos outros
serviços da comunidade eclesial numa visão recíproca e fraterna das vocações.
Portanto, busca-se construir
uma Igreja de corresponsabilidade e comunhão. Chego à conclusão de que a
Pastoral no Brasil deve ter características específicas como a criatividade e o
pioneirismo de presença junto ao povo e compromisso com a causa popular e a
inserção nas comunidades. Isso porque a vivência próxima ao povo ajuda os
vocacionados e vocacionadas no discernimento de formas mais solidárias e de
evangélica opção preferencial pelos pobres. Esta relação de proximidade dá
sentido e vigor a uma Igreja de comunhão e participação.
A Pastoral da igreja, no
Brasil, deve ser contextualizada, tendo os seguintes traços: a) Uma Igreja toda
ministerial, de comunhão e participação, caminho da Pastoral Vocacional marcada
por uma espiritualidade trinitária; b) Uma Pastoral Vocacional inculturada,
dialogal, profética e ecumênica, aberta aos sinais dos tempos, que reforce o
querer e a liberdade dos vocacionados e vocacionadas (Mt 19,21); c) Uma
Pastoral Vocacional que valorize a pessoa na sua dimensão antropológica,
integrando os diversos aspectos do vocacionado e vocacionada, ajudando-o e
ajudando-a a fazer uma autêntica experiência cristã de Deus; d) Uma Pastoral
Vocacional atenta à cultura urbana, englobando as questões sociais e da
pós-modernidade.
Fica bem claro que a
Pastoral da Igreja do Novo Milênio precisa de um aprofundamento bíblico e
teológico sério, enfatizando as dimensões trinitária, cristológica,
eclesiológica e mariológica. Ainda que a
Pastoral da Igreja necessita de uma atenta leitura orante da bíblia na ótica
vocacional, evitando ler vocacionalmente apenas alguns textos. Ainda que a
Pastoral da Igreja do século XXI deverá abrir mais espaços para as pessoas
excluídas, para os deficientes, e para a diversidade cultural: indígenas,
nômades, migrantes, afro-brasileiros, etc.
Uma urgência a integração, à
luz das Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil, da
Pastoral Vocacional com as pastorais afins: familiar, juventude e catequese..
Os aspectos antropológicos, tais como as questões de gênero, a afetividade, a
sexualidade, o homossexualismo e o celibato, precisam ser levados mais a sério.
O serviço de animação vocacional, neste milênio, vai depender muito do
aprofundamento que se fará dos aspectos bíblicos e teológicos do carisma e da
missão dos leigos e leigas, do ministério ordenado e da Vida Consagrada. Será
necessário rever as estruturas formativas dos seminários e das casas de
formação e esclarecer melhor o papel da hierarquia e do povo de Deus no
discernimento vocacional.
Destaco a importância da
mística e da espiritualidade trinitária como fontes da animação vocacional.
Lembram que esta mística e esta espiritualidade redefinem a Pastoral
Vocacional, colocando-a também numa dimensão profética e sócio-transformadora.
Dando vigor à vivência da fé e à luta pela justiça. Neste sentido, o aspecto
político da nossa vocação e missão. O clamor do povo, a realidade
sócio-econômica. Tornam-se importantes para o discernimento vocacional. Pela
sensibilidade social e pela compaixão para com o povo excluído, o vocacionado
ou vocacionada poderá sentir, de forma impetuosa, o chamado que vem de Deus. O
grito do povo, visto com os olhos da fé, torna-se uma das principais mediações
humanas para o chamamento divino.
Dom Eduardo Rocha Quintella
Bispo Diocese Belo Horizonte